Há um senhor senil, sim senil, suponho que senil. Há um senhor que tem uma loja que vende pijamas, peúgas e lenços de assoar.
Esse senhor está senil, só pode. Esse senhor fez-me escrever
Que, em tempos, tinha lá de tudo, algodão, poliésteres, nylons. Linho também, havia quem gostasse dos linhos como ele gostava e então, toalhas bonitas de linho para o Natal e não só, chegou-se a mandar vir umas colchas bonitas de uma casa muito conhecida em Lisboa. A mulher tinha a fama de entreter a freguesia com recitais culinários que nem sempre eram claras, perdão, claros
não, primeiro o açúcar Fatinha, é, primeiro o açúcar com a manteiga, bate-se bem batidinho e só depois é que se põem os ovos. É, bate-se o açúcar, Fatinha.
Ele, rapaz rijo, a loja herdada do pai, naquela altura um senhor senil, agora nada, ou mortinho da silva como quiserem, ele subia por aquela escada acima, fogo nas pernas e nas mãos losangos de uma camisolinha de lã para o neto da senhora Aida.
Isso dantes, porque hoje o senhor senil está sentado atrás do balcão e não se mexe. Treme um bocadinho. Na montra, tombados, como ele, pedaços de papel deixam ler
casa para alugar a menina universitária
senhora com experiência passa a ferro.
Num papel quadriculado, a esferográfica azul
Camisola interior tamanho grande a seis euros.
Evolução das espécies
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
oh antunes
ele já nasceu senil
foi uma fatalidade cósmica
ou te poes a escrever diariamente
ou começo a tratar-te por você que nem o humberto.
aproveita o que tu sabes fazer de melhor minha croma.
e delicia-nos com estes retratos satiricos sobre a carne senil (mas de linho) de que somos feitos.
a camisola de tamanho grande fica para mim.
Enviar um comentário