Calendário Pirelli

O Jonas está nos hospital. Sofreu um acidente vascular cerebral e é bem capaz de não recuperar. Coitado. A mulher dele está desesperada porque não tem ninguém para segurar a loja e, como sabem, o rendimento deles vem exclusivamente da pinga. Não percebo bem a urgência disso da loja. Para além de ricos, acho que nesta altura é mais importante procurar enfermeiras ou tipos que possam ficar com o Jonas durante a noite do que um empregado para a loja dos vinhos. Mas as pessoas surpreendem-nos nas alturas menos prováveis. Um exemplo que ilustra bem esta frase que acabei de escrever, é a Paula. Outro dia parou para pôr gasolina. Entra na bomba, finge que não me vê e dirige-se para pagar na caixa do Zé. Eu estava a contar quantos smarties há num canudo e preferi continuar com os olhos baixos a ver o que é que ela fazia (a nossa relação após o fim do nosso namoro, mantinha-se cordial e educada, pensava eu). Antes de sair ouço a voz dela, bem alto do fundo: “PALHAÇO”. Esta mulher é doente, no mínimo. Palhaço? Eu? Eu? Palhaço? Eu sou o António, não sou palhaço. Que coisa estúpida. Bem, mas voltando à questão do Jonas. O meu pai combinou com ela e fui lá a casa falar e em princípio começo o mais breve possível. Enquanto não trato de tudo na bomba (terei de desistir da bomba aos dias da semana) parece que é uma sobrinha solteirona deles que vai remediar a situação. Estar mergulhado numa fase de profundas mudanças anima-me por um lado, mas por outro desespera-me com violência. Há mais novidades. Ao fim-de-semana à noite tenho ido ajudar o pai da Tina que tem um restaurante em Areosa. Sirvo à mesa e ajudo na cozinha. Para ganhar euros extra, acordei com o Sr. João (pai da Tina) limpar talheres até aquilo fechar. A Tina costuma estar lá (é ela que faz a mousse de chocolate) e prepara-me pratos especiais. O melhor é um bife praticamente cru com molho de alho! É fantástico, porque para além do cheiro da carne crua inspirar-me de forma decisiva, é uma forma saborosa de evitar panikes e lanches mistos. Ela apresenta-se normalmente muito sexy e extremamente apetecível, apesar de achar que é, talvez, um bocadinho alta demais. Aliás, eu dou-lhe pelo ombro, o que, num cenário de eventual romance, não é, de todo, agradável. O tipo que vende bonecos da Expo é um gajo absolutamente doido. Outro dia fui para os copos com ele e o tipo é um gajo impecável. Jogámos uma partida de bowling e quando já estávamos bastante bebidos perguntei-lhe se era ele que andava a dizer que eu andava a roubar na bomba. O gajo ficou basicamente incrédulo e disse: “Porquê? Era segredo?”. Dá uma gargalhada com tanta vontade que se acaba por engasgar. Gostei do humor do gajo e depois disso dei-lhe um abraço com uma grande e repetida palmada nas costas, que também o ajudou na questão do engasganço. O gajo é porreiro e, para além de tudo, é um gajo que não faz praticamente nada, o que naturalmente cria uma sensação de enorme afinidade comigo.


Ninguém me garante que o Jonas não consegue ver. Vou visitá-lo amanhã e levo comigo um calendário Pirelli.

Help, I need somebody, HELP

Temo que algo de extraordinariamente mau possa vir a acontecer. Não sou bruxo. Mas acho que a culpa só pode ser deste blog. Estou praticamente viciado nesta porcaria e no álcool.

Canção mais ou menos apalermada

Olá boa tarde, queiram fazer o favor de se sentarem, acho que há cadeiras para todos. Quem chegou tarde, pode sempre puxar essas almofadas baratas que estão em cima do sofá e sentar-se no chão. Está tudo? Ora bem, aqui vai,
O meu nome é António A. Antunes e existo há alguns anos, ao contrário do que se diz por aí. Dizem-se muitas coisas e às vezes coisas que são mentira, perfeitas calúnias, disparates monstruosos e depois quem se lixa sou eu, porque neste caso, é de mim que se fala. Pois. Queria ver se fosse convosco. Quer dizer, eu nem vos conheço. Ou conheço-vos mal, tirando dois ou três casos. Desculpem, mas borrifo-me de forma considerável para o que vos acontece, desde que não seja uma coisa grave, como é, por exemplo, a negação da vossa existência (quer ela seja inútil ou não). Isso é um assunto grave e sério, como devem imaginar. Caso não consigam imaginar, por favor esforcem-se um bocadinho. É provável que também vocês descubram que há uma forte possibilidade de estarem a ser confundidos com fantoches ou espantalhos mal vestidos. Enfim. Como prova de que tenho um nariz, apito no trânsito e et cetera e tal, vou. Não, não chorem, não pensem que vou abandonar o barco. Para além de ter uma simpatia geral pelo que aqui acontece, tenho orgulho suficiente e estou longe de estar deprimido. Há também coisas que gosto bastante e das quais não abdico de forma alguma. Falo do meu cão e dos comentários absurdos da dona Olga (penso que nunca vos falei dela). Não vou deixar aqui o número de contribuinte, mas uma canção que fiz quando tinha por volta dos dez anos. É assim:

Na minha casa há uma cozinha
No canto é onde dorme o Jeco
Gosto de comer pão com tulicreme
e andar de bicicleta
Gosto de brincar com fisgas

O pato Donald é maricas
O pato Donald é maricas
(estas duas frases acrescentei-as mais tarde, num momento de idiotice)


O ritmo é de uma música, que não sei o nome, dos queijinhos frescos e da Ana Faria. Se isto vos soou, de alguma forma, estranho, aviso-vos que têm, obviamente, toda a razão. Portanto, é isto. Já está. Podem ir embora.