I love Portugal

Hoje assisti, provavelmente, a umas das cenas mais hilariantes da minha vida. No autocarro vinha um tipa magricelas com dois filhos. Um dos putos começa a bater em qualquer coisa, a improvisar uma espécie de batucada infantil desastrosa. É normal, tudo tem o seu tempo. A criança ainda não tem idade para perceber que a melhor coisa que se pode fazer dentro de um bus é observar e ouvir as conversas dos tipos que estão à nossa volta. Um gajo que estava na última fila começa a mandar vir com o puto. Não percebi se o gajo era doido ou estava só a dar tanga. A verdade é que, se quis divertir a plateia teve, em definitivo, bastante sucesso. Falo por mim, naturalmente. A mãe não achou piada nenhuma: “O menino está a fazer algum mal? Até parece que está a faltar ao respeito ao senhor.”Entretanto já metade do autocarro tinha os olhos postos nesta cena. E claro, há sempre bitaites que se mandam: “Ó deixe tar o menino.” “O menino está tão sossegadinho. Deus me livre.” O menino e o irmão riam, parece que tinham entrado numa espécie de cumplicidade proibida com o gajo. O ponto alto estava para vir. O tipo, de lá de trás, sai-se com esta: “A samba já chegou ao Brasil?” (observação relevante: eles eram mulatos) A mãe aí fica furiosa: “Ele é português, nasceu ali no hospital... é português nascido em Portugal.” E repetiu esta frase mais de quatro vezes: “Ele é português. Eu sou portuguesa. Ele é português. Eu sou portuguesa. Ele é português. Eu sou portuguesa.”E o tipo: “Eu também sou português e bom cidadão, quer que lhe prove?” Uma senhora que estava ao lado do tipo não se conteve: “O senhor, se fosse bom cidadão português não dizia isso a uma criança. A criança não está a fazer mal nenhum. Um bom cidadão português não diz isso a uma criança.” A mãe estava doida: “Ele tem esta cor, mas é português, está bem?” Uma senhora mortinha por intervir: “Ó, e quem tem a cor?” E outra: “O que interessa é o que está cá dentro.” Brilhante! Metade do autocarro em simultâneo: “Pois, claro.” A melhor intervenção veio logo a seguir, feita por uma tipa cheiinha, cabelo pintado de loiro e que trazia muitos sacos ao colo. Disse isto com um ar muito sério, o que à partida lhe conferia alguma credibilidade: “Portugal descobriu o Brasil, por isso somos todos irmãos.”Perante isto, calou-se toda a gente e eu achei melhor pegar num caneta e escrever na senha o que tinha acabado de ouvir.


Nota: Mais tarde, em casa, perdi algum tempo a pensar. Em que é que Ser um bom cidadão português tem de diferente em Ser um bom cidadão checo, por exemplo? Provavelmente a mulher ao dizer "O senhor se fosse um bom cidadão português.. " queria apenas ter dito "O senhor, se fosse um bom cidadão." Talvez na descrição de bom cidadão português esteja naturalmente implicita a ideia de alguém que é compreensível com as criancinhas, não sei.

8 comentários:

Anónimo disse...

get a life...

roque disse...

pá... eu descobri o teu blog e não quero ser teu irmão...

Ipslon disse...

E viva portugal!! Ahah

Freddy disse...

Genial...Fez-me lembrar os meus primeiros posts sobre as minhas viagens de autocarro...TOP!!!

Abraço da Zona Franca

Helena disse...

Ainda bem que continuaste com o blog. Com episódios assim, a tua vida deve ser, no mínimo, muito animada! Bem, andar na rua pode ser uma grande aventura. E o gato do post anterior, alguma notícia?

Anónimo disse...

História fantástica do dia-a-dia de um autocarro portuga...mas o melhor é, sem dúvida, a nota final. Se fosse o prof.Martelo dava 20!
Força António!

fernanda f disse...

“Eu também sou português e bom cidadão, quer que lhe prove?”
Percebeste agora?

lbruno disse...

Dude, you're fscking crazy; no bom sentido, claro!