A mulher que embrulhava carrinhos e dominós

(Ontem, ao tirar as meias, lembrei-me de um episódio que tinha ficado esquecido e que é um magnífico case study para todos aqueles que, de algum modo, se interessam pelo estudo do comportamento humano, em específico da ... pura maldade humana)

Tinha ido ao Froiz comprar os meus últimos presentes de Natal. Quando saí estava uma mulherzinha infeliz (mais tarde viria a classificá-la antes como uma autêntica besta infeliz) a embrulhar carrinhos, dominós e essas coisas, num balcão que pertencia a uma loja de brinquedos. Eu precisava de uma etiqueta para colar um pequenino cartão de Natal no saco onde estava a prenda da minha mãe. Para a minha mãe tudo o que é estrangeiro é bom. Neste Natal, optei por lhe oferecer uma espécie de mini-cabaz com galletas, zumos, chocolate a la taza e os entalados que os tipos têm lá - ela adorou. Adiante. Perguntei à tipa se podia tirar uma etiqueta (comprar fita cola estava, definitivamente, fora dos meu planos). Reparem, uma etiqueta, uma etiqueta é uma coisa para custar quê? 1,7 cêntimos, se tanto. Isto, se for uma etiqueta daquelas grandes, que dá para escrever muita coisa e isso, mas aquela era uma etiqueta do tamanho de uma unha, uma autêntica caganita, estão a ver? Uma etiqueta que co-habitava com, talvez, milhares, milhões de outras etiquetas gémeas (o rolo era gigante). Que diferença fazia? Oh, meu Deus! Era só uma. Pergunto-lhe com um ar simpático, educado, gentil, pacífico. Eu era o indefeso, o totó e o gajo que não faz mal a ninguém ao mesmo tempo: “Posso tirar uma etiqueta, se faz favor?” Ela, olha de esgueira para mim e, tão desconfiada, diz: “Não”. Não?? Minha amiga recordo-te que é Natal, é suposto sermos todos amigos, pensei. A tipa parecia mesmo ofendida. Chocada, vexada, abusada, a caminho de uma severa exterminação. Como se lhe tivesse perguntado se lhe podia roubar um rim ou uma outra coisa igualmente horrível, que arruinasse a sua miserável vida para todo o sempre. Isto deixou-me deprimido. Tenho sérias dúvidas se esta não terá sido a negação mais cruel da minha vida. Ela era má.

12 comentários:

Anónimo disse...

Que cena.

Anónimo disse...

Ela não é má. É pérfida... :P

Ipslon disse...

ahahah! tadinho do antunes! ficou a chupar no dedo!
olha tiravas a etiqueta e pronto! Ela era capaz de chamar o seguranca, e depois?! era so uma etiqueta! n se prendem pessoas por roubar uma etiqueta... se não se prendem pessoas por cometerem crimes como pedofilia e gigantescas burlas fiscais, n se prende ninguem por roubar uma etiqueta! E a vantagem do nosso pais... da pa relativizar!

Anónimo disse...

Fico a pensar se não lhe teria perguntado "Então porquê?"
Mas claro, isso é a minha mania de questionar as coisas, mesmo aquelas que não se devem pôr em questão. Mas reconheço. Era um não.
E provavelmente ela estava de mau humor por ter um emprego miserável, por estar a trabalhar nesse dia, por isto ou por aquilo... nunca saberemos!!!

Anónimo disse...

o que ela devia querer mesmo, era que tu perguntasses se podias deitar fogo à loja para que ela não tivesse de embrulhar mais carrinhos e dominós....e afinal só querias uma miserável etiqueta! Posso bem compreender a decepção dela!!! Ó se posso...

Dunyazade disse...

Tudo fixe, Bom Selvgem? :P

fernanda f disse...

Arre que drama tão grande: daquele que pede e daquela que não dá. Dava uma telenovela brasileira.

Freddy disse...

Cruela DeVille em pessoa... E n lhe chamaste "minha ganda baca"?

Abraço da Zona Franca

Anónimo disse...

Antunes, você é um homem bom. Percebo, por completo, a sua indiganação e estou consigo nesse dilema.


Cumprimentos cordiais.

Mac Adame disse...

Talvez ela tivesse medo de abrir um precedente. Depois, se fossem mais 500 pessoas pedir uma etiqueta, ela, por coerência, teria que lhes dar. E depois se calhar era despedida por ficar sem etiquetas. Deve-se ponderar tudo nos dias que correm.

Anónimo disse...

Realmente, é incrivel como isso é possivel! Se fosse noutra época do ano ainda se compreendia (Uma etiqueta é sempre uma etiqueta!), mas no Natal é preciso ser-se muito mesquinho. De qualqueer modo, se te colocares no lugar dela o problema é muito simples, ela apenas não quis quebrar uma regra de etiqueta.

Desculpa, eu juro que nunca mais volto a fazer uma piada deste nivel numa casa que não é minha. Abraço.

Medeia disse...

Ainda dizem que é preciso salvar o espírito d Natal!!!
Para a Mulher «embrulhadora» nem no Natal é Natal!
É de certeza muito infeliz!