2º Episódio

1.
Sobre a minha consoada. Talvez seja pouco relevante dizer que houve os habituais excessos alimentares e as suas previsíveis consequências. Passo então à fase seguinte. O meu primo puto recebeu um kit de karaoke foleiro, o que fez com que acabassem todos a cantar hits do Bryan Adams. Que bonito. A minha avó a abanar o pézinho e a minha mãe, com um jeito estupidamente desajeitado, a fazer qualquer coisa que se assemelhava a uma dança tribal. As pessoas deviam ser proibidas de dançar quando chegam aos trinta e cinco. Sinceramente. O meu Tio Fino não cantava, o parvo. Tinha aquela atitude superior e chegou mesmo a dizer, com ar de gozo: "Isto do karaoke é uma coisa um bocadinho primária, não é?". Idiota. Talvez tenha sido nesse momento, de puro convívio, que senti toda a complexidade do meu agredado familiar e restantes. Éramos vagamente desprezíveis. Para atenuar, fui ao congelador e tirei um bocado de carne que descongelei no micro-ondas. Estava mesmo a apetecer-me um bife no pão, antes de me deitar.


2.
Tenho de confessar. Acho que há uma forte possibilidade de poder vir a apaixonar-me pela Tina. No dia a seguir ao Natal telefonei-lhe para irmos tomar café. Ela aceitou de imediato. Passámos uma tarde nostálgica em casa dela (afinal o tipo mauzão do opel kadett é irmão dela. Um tipo com problemas psicológicos graves. É bipolar. Uma coisa que o faz estar, ora depressivo, ora eufórico) Fizemos bolachinhas de manteiga e bebemos um resto de vinho tinto (era praticamente a garrafa inteira) que tinha sobrado. Não deu para ficar bêbado, mas foi o suficiente para podermos ter uma conversa minimamente interessante. Fiquei com a sensação de que somos ambos tipos algo desequilíbrados e perto da loucura, o que não é mau, necessariamente. Conheci o seu cágado (o bicho é simpático) e falámos um pouco da bílis, o que casou algum constrangimento, pois a Tina, ao que percebi, é uma rapariga muito sensível e amiga dos animais. Abandonei a sua casa ao fim-da-tarde e quis ir comprar-lhe qualquer coisa como uma prenda de Natal, mas as lojas estavam todas fechadas.


3.
Amanhã é a noite de passagem de ano. Eu vou estar de serviço. Talvez convide a Tina para ir até à bomba. Sei que não é o mesmo do que jantar à luz das velas a beber champanhe ou cerveja, mas também não é assim tão mau. Para além do mais, não existe, entre nós, qualquer tipo de compromisso.

9 comentários:

Anónimo disse...

Primo, cada vez estás mais doido. Vê lá se isso se pega. Xiça! Abraço.

Anónimo disse...

deixa lá as prendas para a Tina e vê se lhe telefonas hoje à noite a desejar um Ano Novo feliz na melhor das companhias - a tua! Mas sê subtil ;)
Feliz 2006!

Alexandra disse...

Obrigada pela visita. Feliz 2006.

Anónimo disse...

oi...te encontrei no
Megeras Magerrimas, muito prazer...
espero que em 2006 vc possa amar muuuuuuito, bjos!!!

Freddy disse...

A do Bryan Adams pagava para ver...

Grande abraço de bom ano, da Zona Franca

Dunyazade disse...

Gostei de ler este texto :D

fernanda f disse...

Xiça! "Velhos" a dançar?? Que espectáculo horrível. Eh pah, os velhos deviam ser todos fuzilados, para não dançarem. Vá , encosta os velhadas à parede e ratatata, uma fuzilaria neles.
E não te lembres de chegar a velho, que os teus filhos ainda te fazem uma matança , incluindo a tua mulher. Já se viram coisas mais negritas.

Anónimo disse...

Ah! Mto bom, mto bom! Denota-se aì uma demência latente e um nonsense à Woody Allen.Eu se fosse a ti não me curava!

Anónimo disse...

A ideia de levar uma mulher a uma bomba de gasolina não é má. Todos sabemos que elas gostam de sítios caros! :)

Saudações