O metaleiro e o futuro do blog

A Paula ontem veio a minha casa. Eu estava no banho. Ao Domingo curto tomar banho de imersão com espuma. Deixo a correr um fio de água muito quente (é detestável quando a água arrefece) e não dispenso de um ou dois patinhas. Sou viciado. Podem falar-me noutros clássicos da BD, está bem, o Calvin até me faz rir, mas porra, patinhas é patinhas! Acho que é um bocado como tentar explicar aos putos de hoje o que era o “Mofli, o último Koala”. Eles começam a falar de canais de televisão com desenhos animados e, num instante, já estamos a falar línguas diferentes. Não dá. Mas adiante, que já estou a divagar. Quando a campainha tocou pensei que era a Adelina com mais uma das suas intrigantes crises de hemorróidas, mas a minha mãe berra (odeio quando me fazem de surdo). “A Paula está aqui.” Oh! Diabo. “Ainda estás no banho, filho? Sai da banheira. Está aqui a Paula” Sai da banheira? Que lata! Depois da agressão verbal a que fui submetido e que contei no post anterior (ver post: Pizza Havaiana) ver a Paula seria o mesmo que olhar para qualquer coisa estragada, talvez o mesmo que abrir um frasco de geleia com bolor (adoro geleia). De qualquer das maneiras, os Domingos são sempre deprimentes, com ou sem Paula, com ou sem natais dos hospitais. Eu e a Paula namorámos três anos. Ela chamava sogrinha à minha mãe. Podem ver o grau de intimidade em que esta brincadeira já ia. Talvez por isso ela esperava-me no quarto. Eu chego de tolha à cinta (não sou um tipo musculado, mas gosto do meu peito). O normal seria o meu pai oferecer-lhe amendoins, ela sentava-se no sofá a acariciar o Jeco (o nosso rafeiro) enquanto a minha mãe lhe fazia perguntas sobre o estado geral da sua família. Mas não. Que abuso, no meu quarto! Nós já não namoramos. Será que ela esteve a mexer nas minhas gavetas? Eu escondo coisas nas minhas gavetas!! “Preciso da tua ajuda.” Ela estava com um ar assustado. Fiquei calado. O que é que ela tinha no cabelo? Duas borboletas? Meu Deus. “O que é que foi?” “O Artur está internado.” “O metaleiro?” “António, por favor.” Para dizer a verdade dava-me um certo prazer saber que o idiota estava a sofrer de qualquer maneira. “Aleijou-se o teu amiguinho?” O que ela me contou a seguir estava muito perto da comédia, para não dizer que se inscrevia mesmo dentro da própria palavra. O metaleiro tinha sido violentado por um colega durante um campeonato de dardos. Estava no hospital, a soro. O tipo tinha perdido muito sangue e pelos vistos a sua saúde era uma desgraça (tal como ele). Ela disse também que o dardo com que o metaleiro foi atingido era um dardo especial, daqueles que só os profissionais sabem usar e que, se fosse com dardo normal, era impossível causar-lhe tais ferimentos. Ela queria que eu pedisse à minha tia Céu, que é enfermeira no hospital, que arranjasse uma maneira de ela poder ficar a zelar pelo metaleiro. O que ela não sabia era o quanto a minha Tia Céu a detestava. Uma vez no Pingo Doce, a minha Tia tropeçou (acho que era um pacote de arroz) e ela começou a rir, teve mesmo um ataque de riso ali no corredor das bolachas (se calhar era um pacote de bolachas e não de arroz porque lembro-me que atrás dela estavam uns filipinos que eu acabei por comprar) ria tanto que até a mim me irritou. É normal que a minha Tia tivesse a partir daí desenvolvido um pequeno ódio pela Paula. Mas eu lá liguei à minha Tia e a minha Tia, apesar de tudo, é uma tipa porreira e disse que a ajudava. A Paula ficou toda contente, histérica, ao saltos, até lhe caiu uma borboleta do cabelo. Aquilo era um gancho. Antes de se ir embora perguntou-me se eu tencionava continuar a escrever sobre ela (e sobre nós) no blog. “Quem lê aquilo?” "Sei lá.” Ela: “Não achas estranho estares a contar coisas sobre nós?” Eu: “Não.” Ela: “Está bem.” E foi se embora. Acho que foi por eu lhe ter feito um favor. Não se ia por ali a mandar vir. Aliás o metaleiro estava à espera. Fiquei a pensar sobre este blog. Começo a acreditar que isto está a funcionar como o diário que nunca tive. Quando era pequeno lembro-me que a minha irmã tinha um diário que se chamava “A minha agenda”. Eu tinha muita inveja porque, como era rapaz, não tinha direito a diário. Não tinha nexo, como também não tinha nexo muitas coisas que os meus pais davam à minhã irmã e a mim não. Se calhar, se tivesse nascido rapariga, as coisas tivessem sido diferentes. De qualquer das maneiras, tenho de pensar seriamente sobre o rumo que irei dar a este espaço. Estou numa espécie de crise existencial do primeiro mês de bloguista. Nunca pensei muito sobre que tipo de blog seria o meu blog e talvez tenha cometido um erro, não sei. Preciso de sugestões:


a. Mando o blog às urtigas.
b. Faço disto um local de culto onde se contam anedotas e receitas de ovos
c. Deixo estar como está e arrisco a minha vida sempre que falo de pessoas que podem vir a ler. (ex: Paula)
d. Peço ao Zé para continuar com isto.

Pensem à vontade. Mas falem.

16 comentários:

Anónimo disse...

quem é o Zé?

António A. Antunes disse...

é um gajo que trabalha comigo na bomba.

Anónimo disse...

Antunes, eu aconselhava-o a ter calma. A ideia de continuar com o blog parace-me inevitável, tal é o seu empenho. Não sei o que sente quando lê o que escreve, mas a mim, com já disse diverte-me e distrai-me bastante. Por mim, continue. Seria uma pena parar.

Cumprimentos.

Stuck @ Zero disse...

Definitivamente c.

Anónimo disse...

se passares a incluir (só) receitas de ovos, sou capaz de deixar de vir ao teu blogue.

Inha disse...

Este texto está um espectáculo! Continua, pois! O blog é teu, tu gostas dele e não acho que tenhas de seguir uma linha rígida! Que sufoco! Escreve o que te apetecer, descontrai-te...

roque disse...

pá... acho que a opção B é mesmo a menos plausível. Locais de Culto são secantes, e levam os respectivos autores a crises existenciais... seguidos de posts da treta...

PS: o Zé é que não... ehehhe

snowgaze disse...

Eu acho que está giro...

João M disse...

pá, é naquela.

Unknown disse...

continua pá!!

ainda vais casar com a paulinha!

=P

Mac Adame disse...

Hipótese C. Se for muito arriscado, opta pela B, que as anedotas e as receitas de ovos também fazem bem à alma... digo eu, não sei.

Anónimo disse...

“Mofli, o último Koala”?!!O_o

Pá, nasci em 1970 e não sei quem é este Koala...

(Não acabes o blogue!)

Anónimo disse...

com tantos comentários a favor da opcao c) nao tens alternativa!

António A. Antunes disse...

O blogue vai viver. A hipótese C ganhou. Obrigado a todos os que participaram no questionário.
Àqueles que quiseram participar mas não puderam, também deixo aqui a minha palavra de agradecimento.

Obrigado!

pencapchew disse...

Aí está, só podia ter este desfecho. Venham mais histórias.

Anónimo disse...

Well I agree but I about the brief should prepare more info then it has.